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Cidades Egípcias - Tebas

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Capa do artigo: Cidades Egípcias - Tebas

Ilustração moderna de Tebas, mostrando a cidade e o Templo de Luxor em destaque. Autor desconhecido.

Tebas foi a capital do Egito durante o período conhecido como Novo Reino (c.1570-1069 a.C) e se tornou um importante centro de adoração do deus Amon (também conhecido como Amun ou Amen, uma combinação dos antigos deuses Atum e Rá). Seu nome sagrado era P-Amen ou Pa-Amen, que significa "a morada de Amen".

Mapa com as principais localidades do Egito Antigo.

Era também conhecida pelos egípcios como Wase ou Wo'se (a cidade) e Usast ou Waset (a cidade do sul) e foi construída em ambos os lados do rio Nilo, com a principal cidade na margem leste e a vasta necrópole na oeste. Os gregos chamaram-no Thebai do copta grego Ta-opet (o nome do grande templo de Karnak) que se tornou "Thebes" - o nome pelo qual é lembrado.

O deus Amon.

A cidade cobria 93 quilômetros quadrados e estava localizada a aproximadamente 675 km ao sul da moderna cidade do Cairo. Atualmente, Luxor e Karnak ficam no local da antiga Tebas, e sua área circundante apresenta alguns dos mais importantes sítios arqueológicos do Egito, como o Vale dos Reis, o Vale das Rainhas, o Ramesseum (templo de Ramsés II), o templo de Ramsés III e o complexo do grande templo da rainha Hatshepsut.

A região da cidade de Tebas e a localização dos principais sítios arqueológicos.

Tebas era uma cidade proeminente, devido em grande parte ao aumento da popularidade do culto do deus Amon e era conhecida por sua riqueza e grandeza. No século 8 a.C, muito depois dos melhores dias de Tebas, o poeta grego Homero ainda escreveu notoriamente sobre a cidade em sua Ilíada: "... na Tebas egípcia, os montes de lingotes preciosos brilham, as cem portas de Tebas" e os gregos referiam-se à cidade como Diospolis Magna ("A Grande Cidade dos Deuses").

Medinet Habu: o templo mortuário de Ramsés III.

Durante o Período de Amarna (1353-1336 a.C), Tebas foi a maior cidade do mundo, com uma população de cerca de 80 mil pessoas. Nessa mesma época, Akhenaton transferiu a capital de Tebas para sua cidade de Akhetaton (Amarna), construída sob medida, para separar dramaticamente seu reinado de seus predecessores; seu filho, Tutancâmon, devolveu a capital a Tebas quando assumiu o trono. Os poderosos sacerdotes de Amon consolidaram seu poder ao ponto de, durante a 20° dinastia (c. 1190-1069 a.C), poderem reinar como faraós a partir da cidade.

O Templo de Amon também conhecido como Templo de Karnak.

Tebas continuou como um importante centro de culto e local de peregrinação ao longo da história do Egito, mesmo depois que a capital foi transferida para Pi-Ramsés (perto da cidade mais antiga de Aváris) por Ramsés II (1279-1213 a.C). Durante o Período dos Ramsés, os sacerdotes de Amon governaram a partir de Tebas, enquanto o faraó governava a partir de Pi-Ramsés. Durante todo esse tempo, a cidade continuou a crescer em grandeza, especialmente o Templo de Amon. Ela foi saqueada pelos assírios em 666 a.C, reconstruída e finalmente destruída por Roma no século 1 d.C.

O início de Tebas

Na época do Reino Antigo (c. 2316-2181 a.C), a cidade era um posto comercial secundário no Alto Egito, sendo controlada por clãs locais. Durante o Primeiro Período Intermediário (2181-2040 a.C) o reinado foi centrado em Mênfis até que os governantes mudaram a capital para Heracleópolis. Eles eram tão ineficazes, no entanto, como na antiga capital, o que encorajou os nobres locais de Tebas a se rebelarem contra o governo central. A cidade começou a se tornar mais poderosa sob a liderança de poderosos governadores como Intef I (c. 2125 a.C), Mentuhotep I (c. 2115 a.C) e Wahankh Intef II (c. 2112-2063 a.C) que se estabeleceram como se fossem reis. Wahankh Intef II chegou a se declarar o verdadeiro rei do Egito em oposição aos reis de Heracleópolis.

Os governantes tebanos travaram guerra com os reis de Heracleópolis pela supremacia, e para unir a terra sob um único governo. Mentuhotep II (2061-2010 a.C), um príncipe tebano, finalmente prevaleceu por volta de 2055 a.C derrotando o rei de Heracleópolis e unindo o Egito sob o domínio de Tebas. A vitória de Mentuhotep II elevou seus deuses e, entre eles, Amon, acima dos deuses do Baixo Egito. Esta divindade cresceu em estatura: de um deus local da fertilidade para o ser supremo e criador do universo.

Estátua de Mentuhotep II. Museu do Cairo, Egito.

Acreditava-se que Tebas havia sido criada pelas mãos de Amon, elaborada a partir das águas do Nilo, assim como o monte primordial do ben-ben subiu das águas turbulentas do caos na criação do mundo. Na história original da criação, o deus Atum ou Rá está no ben-ben e começa a obra da criação. Amon era uma combinação de Atum, o deus criador, e Rá, o deus do sol e, como este senhor supremo estava na primeira terra seca no começo da criação, Tebas era considerado seu lugar sagrado na terra e, talvez, o ben-ben original em que ele se levantou no início dos tempos.

A veneração de Amon deu origem à trindade conhecida como a Tríade Tebana de Amon, Mut e Khons (também conhecida como Khonsu) que seria adorada na cidade durante séculos. Amon representou o sol e a força criativa; Mut era sua esposa simbolizada como os raios do sol e o olho que tudo vê; Khons era a lua, filho de Amon e Mut, conhecido como Khons, o Misericordioso, destruidor de espíritos malignos e deus da cura. Essas três divindades do Alto Egito foram tiradas dos antigos deuses Ptah, Sekhmet e Khons do Baixo Egito, que continuaram a ser adorados sob seus nomes originais no Baixo Egito, mas cujos atributos foram transferidos para os Amon, Mut e Khons, divindades de Tebas.

Uma reconstrução do templo de Karnak. Autor desconhecido.

A popularidade desses deuses levou diretamente ao desenvolvimento, e aumento da riqueza e status de Tebas. A construção do Templo de Karnak, dedicada à adoração da tríade, foi iniciada por volta dessa época (c. 2055 a.C), e o templo continuaria a crescer em tamanho e grandeza nos 2.000 anos seguintes, à medida que mais e mais detalhes fossem sendo acrescentados.

O templo continua sendo a maior estrutura religiosa já construída no mundo. Os sacerdotes de Amon, que administravam os rituais, acabariam se tornando tão poderosos que ameaçariam a autoridade do faraó e, durante o Terceiro Período Intermediário (1069-525 a.C) os sacerdotes de Amon governariam o Alto Egito a partir de Tebas.

Os Hicsos

Tebas cresceu em status durante o Segundo Período Intermediário (1640-1532 a.C), quando os príncipes tebanos se posicionaram contra os governantes Hicsos da região do Delta. Os Hicsos eram um povo de origem e etnia desconhecidas (embora muitas teorias afirmam ser capazes de identificá-los), que ou invadiram o Egito ou migraram para a região e tomaram o poder. Eles estavam firmemente no controle do Egito por volta de 1650 a.C e foram considerados por historiadores egípcios posteriores como estrangeiros opressivos, embora as evidências sugiram que eles introduziram muitas inovações e melhorias na cultura (a carruagem entre as mais notáveis).

Os tebanos e os Hicsos acataram uma trégua que proibia as hostilidades, mas não garantiam relações amigáveis ​​entre os dois. Os Hicsos velejavam passando por Tebas para fazer comércio com os núbios no sul e os tebanos eram ignorados até que o governante Hicso Apophis (também conhecido como Apepi) insultou Taá de Tebas em 1560 a.C e a trégua foi quebrada.

Os exércitos tebanos sob Taá atacaram as cidades dos Hicsos. QuandoTaá morreu em batalha, seu filho Kamose assumiu o comando dos exércitos e destruiu a fortaleza deles em Aváris. Após sua morte, seu irmão Amósis I assumiu o comando e capturou a cidade reconstruída de Aváris, a capital dos hicsos. Amósis I dirigiu os hicsos para fora do Egito e recupeou as terras anteriormente governadas por eles. Tebas foi celebrada como a cidade que libertou o país e foi elevada à posição de capital do país.

Novo Reino

Com o Egito novamente estabilizado, a religião e os centros religiosos florescer. E nenhum deles cresceu mais que Tebas. Os santuários, templos, edifícios públicos e terraços de Tebas eram insuperáveis ​​em sua beleza e esplendor. Foi escrito que todas as outras cidades foram julgadas "segundo o padrão de Tebas". O poder e a beleza do grande deus Amon precisavam ser totalmente refletidos na cidade santa de Tebas e todo projeto de construção procurava proclamar a glória desse deus.

Estátua de Tutmés III no Museu de Luxor.

Os Tutmés da 18° Dinastia (1550-1307 a.C) esbanjaram a sua riqueza em Tebas e fizeram da capital egípcia a cidade mais gloriosa do Egito. O trabalho continuou no Templo de Karnak, mas outros templos e monumentos também se ergueram. A maior parte dos maiores monumentos da antiga Tebas foram construídos, reformados ou aperfeiçoados durante esse período por volta de 1550-1069 a.C com uma breve interrupção durante o Período de Amarna.

O Período de Amarna

Durante o reinado de Akhenaton (originalmente conhecido como Amenófis IV, 1353-1336 a.C) os sacerdotes de Amon em Tebas tinham se tornado tão poderosos que possuíam mais terras e mais riqueza do que a coroa. Estudiosos acreditam que esta situação pode ter levado Amenófis IV a adotar o monoteísmo e proclamar o Aton - o disco solar - a divindade suprema. Ao negar a existência de outros deuses, o faraó efetivamente cortou a fonte da riqueza e poder dos sacerdotes.

Estátua de Akhenaton. Museu do Cairo, Egito.

A adoração de todos os outros deuses, exceto Aton, foi banida. Ícones sagrados e estátuas foram destruídas, e os templos de Amon foram fechados. Amenófis IV mudou seu nome para Akhenaton (que significa "o espírito de Aton"), e com sua proclamação do "único deus verdadeiro, Aton", Tebas perdeu para posição de capital para El-Amarna, a nova cidade de Akhetaton.

Se o verdadeiro motivo de Akhenaton para a reforma religiosa era esmagar os sacerdotes de Amon e absorver seu poder, isso funcionou; havia agora apenas um único Deus verdadeiro, cuja vontade era interpretada apenas por Akhenaton.

Embora essa nova crença funcionasse bem para o faraó e a família real, o povo do Egito estava altamente ressentido. A adoração dos muitos deuses tradicionais do Egito era um aspecto importante da vida cotidiana em todo o país, e havia muitos, além dos sacerdotes, que perderam seus empregos quando o monoteísmo de Akhenaton se tornou a religião do Egito. Todo mercador que vendia artefatos e feitiços religiosos, todo artesão que os fabricava, todo escriba que escrevia feitiços ou orações, estava desempregado, a menos que se dedicassem a promover a religião do faraó.

Máscara funerária de Tutancâmon. Museu do Cairo, Egito.

Após a morte de Akhenaton, seu filho Tutankhaten ("imagem viva de Aton") assumiu o trono e mudou seu nome para Tutancâmon ("imagem viva de Amon") e restaurou os antigos deuses e seus templos. A capital voltou a ser Tebas, e um renovado interesse em projetos de construção começou, talvez para compensar os deuses que haviam sido negligenciados, o que produziu templos e santuários ainda mais gloriosos.

Complexos funerário de Hatshepsut em Deir-El Bahri, próximo a Tebas.

A costa ocidental de Tebas tornou-se uma vasta e bela necrópole nos anos e séculos seguintes, e os complexos funerários de Deir-El Bahri (como o da rainha Hatshepsut) inspiravam admiração por sua simetria e grandeza. Tutancâmon foi sucedido por seu general Horemheb (1320-1292 a.C), que acreditava que os antigos deuses do Egito estavam irritados com o insulto do rei herege para sua honra. Ele encorajou projetos de construção em Tebas (e em outros lugares) e destruiu qualquer iconografia relacionada à adoração de Aton ou à família real do Período de Amarna. Ele nomeou Ramsés I como seu sucessor, e assim começou a 19ª dinastia.

Declínio e Legado

Com Ramsés II mudou a capital para um novo local perto da cidade de Aváris chamado Pi-Ramsés, onde ele construiu um grande palácio para distinguir o seu reinado de qualquer que o precedeu. Aváris agora crescia em prosperidade e beleza enquanto Tebas declinava em poder, mas esta era uma situação temporária.

Estátua de Ramsés II na entrada do Templo de Luxor.

Os sacerdotes de Amon, capazes de fazer o que bem entendessem até então afastado da esfera dos faraós em Aváris, adquiriram quantidades significativas de terra através das quais acumularam mais e mais riqueza e maior poder. Na época do Período dos Ramsés eles estavam governando Tebas como faraós e os governantes reais em Aváris não podiam fazer com relação a isso.

A cidade declinou durante o Terceiro Período Intermediário, mas ainda assim era impressionante. A contínua adoração do popular Amon e a lendária beleza da cidade garantiram a Tebas um lugar especial nos corações dos egípcios. O faraó núbio Tatanami fez de Tebas sua capital no século 7 a.C, ligando-se à glória do passado, mas seu reinado durou pouco.

O rei assírio Assurbanipal invadiu o Egito em 667 a.C e uma segunda vez no ano seguinte, completando a obra que ele deixara inacabada antes, saqueou Tebas, expulsando Tatanami do Egito e deixando a cidade em ruínas.

Assurbanipal, o destruidor de Tebas. Relevo do paláco assírio de Nínive. Atualmente no Museu Britânico.

Os assírios decretaram que Tebas deveria ser restaurada e reconstruída por trabalho egípcio para compensar sua resistência ao domínio assírio. A cidade gradualmente se recuperou e a adoração de Amon continuou até a vinda de Roma, quando foi destruída pelo exército romano no século 1 a.C. Depois disso, permaneceu em ruínas, povoada apenas por algumas pessoas que habitavam os prédios que haviam sido deixados vagos depois que os romanos se mudaram.

Na época do historiador Estrabão (c. 63 a.C - 24 d.C) a cidade não passava de uma atração turística de ruínas antigas e ruas vazias. Tebas manteve seu status lendário, no entanto, e continuou a ser venerada por aqueles que se lembravam de sua antiga glória. Como local do Vale dos Reis, do Vale das Rainhas e do grande Templo de Karnak, Tebas continua como um elo vital para a antiga cultura egípcia e a vitalidade de sua história até os dias atuais.

Tradução de texto escrito por Joshua J. Mark
Fevereiro de 2016

Foto de membro da equipe do site: Moacir Führ
Postado por Moacir Führ

Moacir tem 36 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.

Galeria de imagens 1 de 15
Reconstrução moderna do Templo de Luxor.

Autor Jean-Claude Golvin.

Reconstrução moderna do Templo de Luxor.

Autor Jean-Claude Golvin.

Reconstrução moderna do Templo de Luxor.

Autor Jean-Claude Golvin.

Outra reconstrução moderna do Templo de Luxor.

Autor Millmore.

Reconstrução moderna do interior do Templo de Luxor.

Autor Jean-Claude Golvin.

Reconstrução moderna da fachada do Templo de Luxor.

Autor Jean-Claude Golvin.

Reconstrução da entrada do templo de Karnak.

Autor Millmore.

Reconstrução da entrada do templo de Karnak.

Autor desconhecido.

Reconstrução da entrada para o Templo de Karnak.

Autor Jean-Claude Golvin.

Reconstrução moderna do Templo de Karnak.

Autor desconhecido.

Outra reconstrução moderna do Templo de Karnak.

Autor desconhecido.

O Templo Mortuário de Hatshepsut na necrópole de Tebas.

Templo mortuário de Ramsés III em Medinet Habu.

Autor Jean-Claude Golvin.

Ruínas da Deir el-Medina

Vila dos construtores e artesãos responsáveis por construir os túmulos do Vale dos Reis.

Colossos de Mêmnon

Duas estátuas gigantescas do faraó Amenófis III, que guardam a entrada da necrópolis de Tebas.

Fontes bibiliográficas
  • Brewer, D. J. Ancient Egypt: Foundations of a Civilization. Pearson, 2005.
  • Bunson, M. Encyclopedia of Ancient Egypt. Gramercy, 1999.
  • Durant, W. Our Oriental Heritage. Simon & Schuster, 1954.
  • Pinch, G. Egyptian Mythology: A Guide to the Gods, Goddesses, and Traditions of Ancient Egypt. Oxford University Press, 2004.
  • Scarre, C. and Fagen, B.F. Ancient Civilizations. Pearson, 2007.
  • Van De Mieroop, M. A History of Ancient Egypt. Wiley-Blackwell, 2010.
  • Jean-Claude Golvin. Égypte. Acesso em 25 dez. 2018.
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