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A vida de Wah e a tumba de Meketre em Tebas

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Capa do artigo: A vida de Wah e a tumba de Meketre em Tebas

Modelo de um celeiro com escribas encontrado na tumba de Wah. MET. N° 20.3.11

Há pouco mais de 4.000 anos, por volta de 2005 a.C., um menino chamado Wah nasceu na província de Waset, no Alto Egito, cuja principal cidade é mais conhecida hoje por seu antigo nome grego - Tebas.

O faraó Mentuhotep II

Naquela época, Tebas era a capital de todo o Egito, e Nebhepetre Mentuhotep, fundador do Reino Médio, estava chegando ao fim de seu longo reinado. Nebhepetre era um membro da família tebana que havia controlado uma grande parte do Alto Egito por várias gerações.

Estátua do faraó Mentuhotep II, que reinou de 2061 a 2010 a.C. Museu do Cairo, Egito.

No início da terceira década de seu reinado, cerca de 25 anos antes do nascimento de Wah, o rei reuniu o Alto e o Baixo Egito após um período de guerra civil e tomou o nome de Hórus Sematawi - Unificador das Duas Terras. Por essa realização, Nebhepetre foi para sempre homenageado pelos egípcios como um dos seus maiores faraós.

A vida de Wah

Enquanto crescia, Wah, sem dúvida, ouviu histórias sobre a época difícil em que não havia um governo supremo governando as duas terras do Egito, e Tebas havia ficado isolada do comércio com as terras estrangeiras do nordeste.

Ele deve ter sido informado inúmeras vezes dos atos heróicos de Nebhepetre e de seus partidários, que tinham lutado para reunir o vale do Nilo, no sul, com o delta no norte. Mas na vida de Wah havia paz, e a prosperidade estava voltando para a região.

No começo de sua vida, provavelmente quando ele tinha 6 ou 7 anos, Wah começou a estudar para se tornar um escriba. Aprender a arte da escrita era um processo longo e meticuloso, realizado principalmente copiando textos religiosos, obras literárias famosas, canções e poesia.

Wah pode ter dominado os hieróglifos formais e os scripts hieráticos cursivos, memorizando centenas de sinais que tinham significados específicos em si mesmos; que representavam sons e podiam ser usados para soletrar palavras; que eram determinantes, ou sinais que dão pistas sobre o significado de uma palavra; e que poderia ser usados em mais de uma dessas maneiras.

Equipamento de escrita de escriba egípcio datado de 1045-992 a.C. MET. N° 47.123a–g

Ele teria praticado a escrita desses sinais, aprendendo seu tamanho correto e espaçamento em relação um ao outro. Ele também teria aprendido a misturar tinta e a fazer pincéis com canas, pois a escrita egípcia era uma forma de pintura, e os melhores escribas desenvolveram feições pessoais que eram caligrafias em grande estilo.

Em algum momento de sua juventude, talvez bem cedo em seu treinamento de escribas, Wah foi trabalhar na propriedade de Meketre, um rico tebano, que havia começado sua carreira como funcionário do governo durante o reinado de Nebhepetre, e subiu para a exaltada posição de “portador de selos” - ou tesoureiro - um dos cargos mais poderosos da corte.

Estátua de Wah encontrada na tumba MMA 1102. 32 cm de altura. Essa manta de linho talvez imite o tipo de saia longa usada por oficiais do Reino Médio. MET. N° 20.3.210

Um homem da importância de Meketre provavelmente possuía uma grande quantidade de terras, e seu domínio privado teria sido virtualmente auto-suficiente, com arrendatários, artesãos e outros trabalhadores especializados, escribas, administradores e servos, todos vivendo e trabalhando na propriedade.

Wah provavelmente começou seu serviço como um dos escribas de nível inferior, cuidados das contas e escrevendo cartas. Em última análise, ele se tornou um superintendente, ou gerente, dos depósitos da propriedade.

A tumba de Wah

Podemos especular sobre alguns dos deveres de Wah, graças a um conjunto de modelos de madeira que provavelmente foram feitos durante sua vida como parte do equipamento funerário de seu empregador.

Essas pequenas cenas, que formam um dos melhores e mais completos conjuntos de modelos funerários do Reino Médio já descobertos, podem ser interpretadas sob vários aspectos. Todos elas têm significados simbólicos ligados às crenças funerárias egípcias, mas também fornecem uma imagem das tarefas do dia-a-dia, que eram realizadas em uma antiga propriedade egípcia.

Modelo de um celeiro com escribas encontrado no túmulo de Meketre. 56 cm de largura. MET. N° 20.3.11

A base da economia do Egito era a agricultura, e os grãos, frutas frescas e vegetais cultivados nas terras de Meketre seriam seus bens mais importantes. Uma grande parte das colheitas teria sido seca ou processada em óleo e vinho, armazenada e usada durante todo o ano nas cozinhas da propriedade.

Alguns dos produtos eram reservados para o pagamento de  impostos e salários. Qualquer sobra poderia ser trocada por matérias-primas ou itens de luxo não disponíveis na propriedade.

Artesãos na propriedade produziam vasos de cerâmica para armazenar cerveja e vinho; os carpinteiros fabricavam e consertavam móveis, portas, janelas e talvez até caixões e outros equipamentos funerários, quando necessário; tecelões teciam as centenas de metros de linho usadas em todos os aspectos da vida e para embrulhar múmias após a morte.

Modelo de padaria e cervejaria encontrado no túmulo de Meketre. 55 de largura. MET. N° 20.3.12

Em sua idade adulta, Wah provavelmente supervisionou a produção de todas as lojas artesanais, bem como o armazenamento de produtos agrícolas, o pagamento de impostos e o pagamento de salários em cereais, tecidos e outros produtos para o trabalho realizado na propriedade.

Quando jovem, Wah deve ter sido um indivíduo imponente; de quase dois metros, sua altura excedia em muito a da maioria de seus contemporâneos. No entanto, em algum momento ele parece ter ferido ambos os pés, e seus deveres como escrevente e supervisor provavelmente lhe permitiram manter um estilo de vida bastante sedentário.

Talvez como resultado dessas circunstâncias, aos vinte e poucos anos, Wah havia se tornado obeso - um sinal de grande prosperidade, mas também de má saúde, pois ele morreu antes dos trinta anos.

Tradução de texto escrito por Catharine H. Roehrig
Outobro de 2004

Foto de membro da equipe do site: Moacir Führ
Postado por Moacir Führ

Moacir tem 36 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.

Fontes bibiliográficas
  • D'Auria, Sue, Peter Lacovara, and Catharine H. Roehrig. Mummies & Magic: The Funerary Arts of Ancient Egypt. Boston: Museum of Fine Arts, 1988.
  • Freed, Rita E. Egypt's Golden Age: The Art of Living in the New Kingdom, 1558–1085 B.C. Boston: Museum of Fine Arts, 1981.
  • Hayes, William C. The Scepter of Egypt: A Background for the Study of Egyptian Antiquities. 2 vols. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1953-59.
  • Roehrig, Catharine H. Life along the Nile: Three Egyptians of Ancient Thebes. New York: Metropolitan Museum of Art, 2002.
  • Roehrig, Catharine H., ed. Hatshepsut: From Queen to Pharaoh. New Haven: Yale University Press, 2005.
  • Schulz, Regine, and Matthias Seidel, eds. Egypt: The World of the Pharaohs. Cologne: Könemann, 1998.
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