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12 coisas que você precisa saber antes de estudar a Grécia Antiga

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Capa do artigo: 12 coisas que você precisa saber antes de estudar a Grécia Antiga

Ânfora de Exekias, Aquiles e Ajax jogam algum tipo de jogo, c. 540–530 a.C. Museu do Vaticano.

Passei os últimos meses estudando a civilização grega, e apresento a vocês alguns pontos de esclarecimento que podem ser extremamente úteis para quem está começando a estudar esse tema ou deseja entender melhor essa civilização.

Aqui estão 12 coisas que você precisa saber sobre a Grécia Antiga:

1. As fontes primárias

A civilização grega teve seu desenvolvimento e auge durante o período de 800 à 300 a.C., sendo muito mais recente do que as civilizações do Egito e da Mesopotâmia, e isso se reflete em uma grande quantidade de vestígios materiais e fontes deixadas para a posteridade.

As principais fontes primárias são vasos, relevos em mármore, templos, monumentos funerários, estátuas, moedas, além de uma grande quantidade de registros escritos, como peças de teatro, obras filosóficas, registros históricos, etc.

Detalhe de uma estela de mármore inscrita com um decreto da boulé ateniense, cerca de 440–425 a.C. Museu epigráfico de Atenas. Via Wikimedia Commons.

Dentre as antigas cidades da Grécia Antiga, a mais bem conservada e que nos legou mais informações é Atenas. Então, se você for estudar esse tema, prepare-se para ler muito sobre essa cidade.

Por outro lado, a segunda cidade grega mais famosa, Esparta, não nos deixou muitos vestígios materiais, isso se deve em grande parte à sua própria organização sócio-econômica, que desvalorizava a indústria e comércio.

Grécia Antiga em museus

Infelizmente a maior parte dos vestígios materiais da civilização grega se encontra em museus da própria Grécia. Você pode estar se perguntando: Porque essa é uma informação infeliz?

Muitos achados arqueológicos da Grécia estão em exposição em museus do oeste europeu, como o Museu Britânico, o Museu do Louvre e o Museu do Vaticano. E isso é excelente, porque esses museus possuem um grande acervo online, e possibilitam a consulta e estudo por pessoas de todo o mundo.

Turista tira fotos de estátua do Partenon no Museu Britânico.

Os museus gregos, por outro lado, não se importam em oferecer o seu acervo para o resto do mundo. A única forma de descobrir as maravilhas da civilização grega que estão nesses museus é através de fotos presentes em sites de terceiros.

Estátua de bronze grega no Museu da Ágora de Atenas.

Museus importantíssimos para a História da civilização ocidental, como o Museu da Ágora de Atenas, o Museu de Esparta, o Museu Histórico de Creta em Iraklio, o Museu de Delfos, enfim, todos eles não estão presentes online e restringem o acesso a suas exibições à visitantes pagantes no local. O Museu da Acrópolis de Atenas é uma exceção, embora o site não seja muito bom e aja poucas fotos e informação do acervo online.

2. Os principais períodos

A História da civilização grega costuma ser dividida em cinco períodos principais, isso facilita o estudo e a organização dos achados arqueológicos. Abaixo você confere cada um deles, com uma pequena descrição dos principais eventos de cada período:

Reinos Egeus (2500-1200 a.C.)
Auge da ilha de Creta e da civilização Minóica. Auge do reino grego de Micenas.

Idade das Trevas (1200-800 a.C.)
Período obscuro onde houve grande retração econômica e cultural.

Período Arcaico (800-500 a.C.)
Surgimento das cidades-estado, as chamadas pólis. Período de grande expansão colonial. Esparta estabelece sua constituição baseada no Código de Licurgo e em Atenas diversos conflitos de classe levam a formação gradativa da democracia.

Período Clássico (500-323 a.C.)
Auge da democracia ateniense. Guerras Médicas. Império Ateniense. Guerra do Peloponeso. Ascensão da Macedônia e conquistas de Alexandre o Grande.

Período Helenístico (323-146 a.C.)
Posterior a morte de Alexandre. Junção da cultura grega com a cultura oriental. Domínio grego no Egito. No século 2 e 1 a.C. os romanos conquistam todas as regiões de língua grega.

3. Religião e mitologia

A Grécia Antiga ainda não conhecia o monoteísmo, que só se tornou popular no período de decadência do Império Romano. Os gregos eram politeístas e acreditavam nos deuses Olímpicos: Zeus, Atena, Apolo, Poseidon, etc.

As cidades costumavam construir templos para honrar e agradecer aos deuses após vitórias militares, e até os vencedores de jogos tinham o costume de oferecer algum monumento aos deuses como agradecimento.

Ruínas de um templo grego em Paestum, na Itália.

A religião grega não era organizada, não havia uma ordem de sacerdotes. O grande centro religioso era Delfos, onde ficava um dos principais oráculos da Grécia. Os gregos acreditavam que esses oráculos podiam se comunicar com os deuses e, assim, ajudar as pessoas ou as cidades a tomar decisões em momentos importantes.

Recriação moderna da aparência de Delfos na antiguidade clássica. Ilustração do site Archaeology Illustrated.

Embora as cidades costumassem ter um deus principal, outros deuses também recebiam homenagens, dependendo da ocasião e da necessidade. Em Atenas, por exemplo, onde a deusa Atena era a deusa mais importante, também haviam santuários para outros deuses como Hefésto, Zeus e Poseidon.

4. Vida econômica

A imensa maioria da população grega trabalhava na agricultura. Essa, na verdade, é uma característica de todas as sociedades pré-industriais.

Conforme as cidades da Grécia cresceram, o trabalho artesanal se tornou mais especializado e passou a contar com mais trabalhadores em pequenas oficinas. Mas mesmo assim, a sociedade se manteve agrícola pela simples limitação produtiva da época.

Gregos produzindo óleo de oliva. Ilustração moderna, autor desconhecido.

A escravidão era uma prática comum na Grécia e todos donos de terra, mesmo os pequenos proprietários, costumavam ter pelo menos um escravo para ajudar na produção.

5. Colonização grega

Os gregos antigos não estavam presentes apenas na Grécia. Ao longo de toda a História grega aconteceram movimentos de migração para novas áreas, onde os gregos fundavam novas cidades.

As colônias gregas antes das conquistas romanas.

No século 4 a.C. os povos de língua grega estavam presentes na Sicília, no sul da Itália, nas ilhas do Mar Egeu, na Ásia Menor e na costa do Mar Negro. Algumas das cidades gregas mais importantes não estavam na Grécia, entre elas destacam-se Mileto, Éfeso, Rodes, Pérgamo e Siracusa.

6. Os conflitos sociais: as guerras de classes

Uma constante durante toda a História da Grécia Antiga foram os conflitos de classe entre os mais pobres e os membros da aristocracia das cidades. Havia uma constante luta pelo poder, os pobres lutando pela democracia, enquanto os ricos lutavam pela oligarquia.

Durante essas lutas aconteceram muitos massacres, as oscilações de poder nunca ocorriam de forma pacífica. Mas as mudanças de sistema político eram comuns, e oligarquias, tiranias e democracias se revezavam no poder em praticamente todas as cidades gregas.

Durante o período Clássico, foi muito comum a interferência de cidades mais poderosas na política de cidades menores. Atenas, por exemplo, que era uma democracia, forçava os seus súditos a adotarem o mesmo sistema de governo.

7. Invenção da moeda

Durante a maior parte da História grega, a moeda era algo desconhecido. A invenção da moeda só aconteceu na Lídia (Ásia Menor) no século 7 a.C., e mesmo depois disso o costume das cidades-estado de cunhar as suas próprias moedas foi um processo gradual que levou muitos séculos. A falta de uma união política entre os povos gregos, e as próprias limitações da economia da época, impediram que essa prática se alastrasse mais rapidamente.

Moeda de prata ateniense do século 5 a.C.

8. Guerras Médicas

Quando o assunto é guerra, dois conflitos se destacam na História da Grécia Antiga: as Guerras Médicas e a Guerra do Peloponeso.

As Guerras Médicas foram conflitos entre as cidades gregas e o Império Persa no século 5 a.C. Na época, os persas governavam o maior império do mundo, e eram capazes de reunir tropas que chegavam há mais de 100 mil homens, enquanto as cidades gregas tinham dificuldades de se organizar juntas devido a falta de unidade política.

O Império Persa em 490 a.C. Observe a posição e o tamanho das cidades gregas no canto esquerdo do mapa.

Mesmo assim, os gregos, liderados por Atenas e Esparta, conseguiram vencer as forças persas em três famosas batalhas: Maratona (490 a.C.), Salamina (480 a.C.) e Platéia (479 a.C.) e dessa forma impediram que a Grécia se tornasse parte do Império Persa. Tom Holland resume a importância da vitória grega nas Guerras Médicas:

Como súditos de um rei estrangeiro, os atenienses jamais teriam a oportunidade de desenvolver sua cultura democrática única na História. Muito do que distinguiu a civilização grega teria sido abortado. O legado herdado por Roma e transmitido à moderna Europa teria sido imensuravelmente empobrecido. (HOLLAND, p.17)

9. O Império Ateniense e a Era de Ouro

Nos anos finais das Guerras Médicas, centenas de cidades gregas se uniram, sob a liderança de Atenas e fundaram a Liga de Delos, uma espécie de aliança entre cidades, em que cada uma contribuía para pagar os esforços de guerra, e assim expulsar os persas definitivamente da Grécia e da costa da Ásia Menor, onde várias dessas cidades estavam localizadas.

Após o fim dos conflitos, no entanto, Atenas utilizou seu grande poder naval para transformar a Liga de Delos em seu Império particular. Os recursos da Liga, que eram mantidos na ilha de Delos (por isso ela tem esse nome), foram transferidos para Atenas e ela usou esses recursos para financiar grandes obras públicas e manter a sua marinha. Isso levou a cidade a sua Era de Ouro.

O Império Ateniense em 450 a.C.

Durante esse período  (454-404 a.C) a cidade viveu o seu melhor momento, e produziu um grande legado cultural. A maior parte das coisas que você já ouviu falar da Grécia Antiga remetem a esse período: o auge do teatro (Eurípedes, Sófocles, Aristófanes, etc), o auge da filosofia (Sócrates e Platão) e o auge das artes e da arquitetura com a reforma da Acrópolis e a construção do Partenon.

As ruínas do Partenon em destaque no centro da Acrópolis de Atenas.

10. Guerra do Peloponeso e Tucídides

O segundo conflito mais importante da Grécia Antiga foi a Guerra do Peloponeso. Essa foi em termos práticos uma grande guerra civil entre as cidades gregas.

Essa guerra que se arrastou por quase 30 anos foi causada pelo Imperialismo Ateniense. A constante interferência de Atenas nas demais cidades e a crescente ampliação de seu Império fizeram com que outras poderosas cidades da Grécia temessem pelo seu futuro. Essas cidades (Tebas, Corinto, etc) se uniram sob o comando de Esparta e declararam guerra a Atenas.

Pintura do Vaso Chigi do século 6 a.C., mostra o encontro de duas falanges de guerreiros hoplitas gregos.

A maior parte das informações que possuímos sobre esse conflito vem da obra de Tucídides, um historiador ateniense que lutou na guerra. Sua obra "História da Guerra do Peloponeso" é considerada uma das primeiras obras de História escritas usando um verdadeiro método de análise que visava a imparcialidade. Além disso, Tucídides buscava entender as causas econômicas e políticas por trás do conflito e não apenas narrar as principais batalhas.

O resultado da guerra foi muita matança e destruição, terminando com o fim da hegemonia econômica e política de Atenas, e consequentemente pondo um fim na sua Era de Ouro. O historiador Will Durant chamou esse conflito de "o suicídio da Grécia".

11. Alexandre o Grande e a importância do período Helenístico

No final do século 4 a.C. com as cidades gregas em declínio, surgiu ao norte uma nova potência militar: a Macedônia. Os macedônios, liderados pelo rei Filipe, conquistaram a Grécia e, após a sua morte, seu filho Alexandre liderou uma campanha que, na teoria, visava vingar os gregos pelas agressões e pelas constantes interferências persas na política grega.

Os macedônios de Alexandre destruíram o Império Persa em uma série de campanha que duraram mais de dez anos. Após a morte de Alexandre, no entanto, o domínio grego sob a Ásia se esvaiu em pouco tempo.

O extenso império de Alexandre o grande.

A importância desse conflito reside no fato de ele ter representado uma junção da cultura grega com a cultura oriental, que teve grande reflexos no futuro da Europa e do ocidente. Essa mescla de culturas influenciou enormemente o judaísmo, e o posterior cristianismo, além de trazer para a Europa novas ideias, como o conceito de monarquia divina, que iria se estabelecer nos séculos finais do Império Romano e ganharia força na Idade Média. A essa junção chamamos Cultura Helenística.

12. O legado grego

A importância da civilização grega é difícil de quantificar porque sua influência sobre a cultura ocidental é gigantesca. Para não tornar esse tópico muito extenso, me focarei em três pontos: o idioma, a filosofia e a arquitetura.

O idioma grego

A colonização grega e a posterior expansão comercial e cultural, típicas do período helenístico, fizeram do grego uma língua de uso geral e cosmopolita. Durante a antiguidade clássica o grego possuía o mesmo caráter que o inglês tem hoje em dia. O conhecimento desse idioma era essencial para qualquer pessoa que se considerasse culta, e a grande maioria dos membros da elite romana falavam grego fluentemente.

A existência de um idioma de uso geral contribuiu para aumentar o contato entre os povos do Império Romano e a difundir a cultura greco-romana. Além de ter tido um papel importante na conservação do patrimônio grego.

A filosofia grega

A Grécia foi responsável por grandes avanços na filosofia e nas ciências. Sócrates, Platão e Aristóteles foram os grandes filósofos da antiguidade, mas não foram os únicos. Várias escolas filosóficas se desenvolveram na Grécia Antiga e esses filósofos não se debruçavam apenas sobre temas metafísicos, mas foram responsáveis por um grande desenvolvimento no conhecimento humano, tendo dado os primeiros passos na área das ciências naturais.

Aristóteles, considerado um dos mais importantes filósofos da História, foi responsável por um extenso trabalho de catalogação e classificação biológica e era um grande estudioso dessa área, e conseguiu dar uma grande contribuição mesmo estando preso as limitações técnicas de seu tempo.

Da esquerda para a direita. Bustos de Sócrates, Platão e Aristóteles.

Platão e Aristóteles são conhecidos por terem tido uma grande influencia na formação do cristianismo. Os dois grandes teólogos da igreja nos seus primeiros séculos, Agostinho e Tomás de Aquino, são reconhecidos por terem usado a filosofia platônica e aristotética para aprimorar a teologia cristã.

Os filósofos gregos discutiram muitas questões em seus trabalhos: desde a filosofia da educação, questões de ética e moral e a própria natureza do ser humano e das suas instituições. A importância da filosofia grega para o ocidente é bem resumida em uma famosa (e talvez um pouco exagerada) frase do filósofo Alfred North Whitehead:

A definição mais precisa da Filosofia Ocidental é a de que ela não passa de uma sucessão de notas de rodapé da obra de Platão. (na obra Processo e Realidade, 1929)

A arquitetura grega

Muitos elementos arquitetônicos e artísticos desenvolvidos pelos gregos foram legados para as civilizações posteriores através do Império Romano. Os gregos foram os grandes mercadores da antiguidade e tiveram contato com muitas culturas, sendo capazes de fazer uma síntese das diversas inovações feitas por diferentes povos. Por exemplo, sabemos que as colunas gregas tiveram inspiração egípcia e foram primeiro utilizadas em Creta para depois chegar ao continente.

Reconstrução digital do Partenon, o principal templo de Atenas, com um recorte mostrando seu interior.

O templo grego foi o resultado da soma de todas as contribuições dos povos antigos. Diversos elementos como a coluna, o teto construído sobre um frontão triangular e a utilização de telhas de cerâmica são legados gregos.

Os romanos iriam superar as habilidades gregas na arquitetura, mas não há dúvida de que a contribuição grega foi extremamente importante nesse desenvolvimento.

Foto de membro da equipe do site: Moacir Führ
Escrito por Moacir Führ

Moacir tem 36 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.

Fontes bibiliográficas
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