FIELDS, Nic. Spartacus and the Slave War 73-71 BC: A gladiator rebels against Rome. Oxford: Osprey Publishing, 2009.
Outro dia tirei uma pequena folga para assistir a série Spartacus, que está disponível na Netflix (nos próximos dias farei uma análise dela e publicarei aqui no site). A série têm as suas qualidades, e eu realmente fiquei com vontade de saber mais sobre Espártaco, e a revolta de escravos conhecida como a Terceira Guerra Servil. Essa revolta aconteceu cerca de 20 anos antes da guerra civil entre Júlio César e Pompeu, no finalzinho do período republicano.
Infelizmente, o mercado editorial brasileiro não possui (até onde eu saiba) nenhuma obra sobre o tema. Então fiz a leitura desse livro, disponível apenas em inglês. A obra é de autoria de Nic Fields, um prolífico doutor em História Antiga, com dezenas de trabalhos publicados pela mesma editora, alguns deles já resenhados aqui no site.
Eu sempre gostei do trabalho do Nic Fields, especialmente porque ele adora citar as fontes primárias, e nessa obra não é diferente, o autor até dedica todo um capítulo para comentar as principais fontes sobre esse conflito. Nossas principais fontes são a obra de Salústio (Histórias), Plutarco (A vida de Crasso) e Apiano (História romana). Mas também há algumas informações nas obras de Floro e Paulo Orósio. Desses autores, o único que realmente viveu durante o período do conflito foi Salústio. O autor fala constantemente, ao longo de toda obra, sobre a questão da escassez de fontes e comenta sobre a reduzida qualidade delas.
Nossa visão do conflito é limitada. Todos os registros da rebelião foram feitos por historiadores membros de um elite intelectual aristocrata, e nenhum registro da visão dos rebeldes se conservou. O conflito, que na visão dos romanos não passou de uma rebelião de escravos, também é menosprezado pela maioria dos historiadores antigos, sendo normalmente citado como um pequeno problema, que não merece a mesma atenção que as grandes guerras travadas pelos romanos. Essa atitude também ficou clara durante o conflito, e diversos exércitos mal preparados tiveram que ser derrotados, para que os romanos fossem convencidos da gravidade da situação, e enviassem uma força de 10 legiões para finalmente esmagar a rebelião.
O autor divide a obra nas seguintes partes:
- Introdução que fala das outras Guerras Servis que ocorreram na Sicília
- Sobre a escravidão romana e os gladiadores
- Espartáco e Crassso
- Descrição dos dois exércitos: escravo e romano
- Descrição do conflito
- O legado de Espártaco
- As fontes primárias
Eu gostei da obra, embora fique claro que as limitações das fontes dificultaram a produção de uma narrativa coesa. O autor passa muito tempo descrevendo a sociedade e o exército romano da época, e realmente poucas páginas são dedicadas ao conflito em si. E a parte mais interessante, que seria conhecer melhor o exército rebelde, o seu dia-a-dia e a sua organização militar, acabam sendo ignorados, pelo simples fato de que todos os rebeldes envolvidos foram mortos pelos romanos. Com todas essa limitações, apenas 30 páginas (52-82) são dedicadas ao conflito propriamente dito.
Tirando a narração do conflito, as partes que eu achei mais interessantes foram o capítulo Ordem Social Romana, que trata da escravidão e da visão dos romanos sobre os escravos, e o capítulo sobre os exércitos que, na parte sobre o exército romano, faz uma descrição do exército após as reformas de Mario.
Confira abaixo as três ilustrações presentes no livro, produzidas por Steve Noon:
Para mais detalhes sobre a obra, por favor confira as minhas anotações de leitura, clicando no link logo acima desse texto.
Resenha publicada em 24/04/2020.
Escrita por
Moacir Führ
Moacir tem 33 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.