Nessa obra, que tem como subtítulo "Uma celebração da luxúria, do desejo e do amor na antiguidade", a norte-americana Vick León se debruça sobre a história do sexo em civilizações do mundo antigo como Egito, Mesopotâmia, Palestina e especialmente, a Grécia e a Roma Antiga.
O livro é basicamente um conjunto de causos sexuais da antiguidade. A autora não tem a pretensão de fazer um estudo profundo da sexualidade humana, ao invés disso se dedica a narrar histórias de personagens famosos como Julio César, Augusto, Alcibíades, Sócrates, Eurípides, Sófocles, Messalina, e contos das mitologias antigas, em especial a greco-romana.
O livro também apresenta textos dedicados a temas puramente sexuais e como eles eram vistos na antiguidade, alguns desses temas são a masturbação, o sexo oral e anal, circuncisão, contracepção, homossexualidade, menstruação, aborto, pornografia, etc.
Se você está procurando por um livro de História com boas fontes, essa não é uma boa obra. A autora até chega a citar ocasionalmente algum autor da antiguidade, mas na maior parte dos casos não se dá ao trabalho. Fica claro que houve uma intenção de manter o texto o mais fluído possível, visando atingir o público geral. O problema é que a autora faz muitas afirmações absurdas, então seria interessante que, pelo menos as alegações mais fantasiosas, tivessem a sua fonte identificada.
Em um determinado ponto do livro (p.149/150), ela afirma que o rei assírio Ashurbanipal teria sido assassinado por ser um travesti. Essa é uma alegação extraordinária, e alegações extraordinárias exigem evidências extraordinárias (já diria meu amigo Carl Sagan).
Na realidade eu até acredito que a autora tenha feito sua pesquisa corretamente, nada do que ela afirma parece ter sido inventado. Mas com certeza faltou uma visão mais crítica.
Todos nós conhecemos as fontes antigas. Elas não são 100% confiáveis. Não é porque algo está escrito na obra de Heródoto ou de outro historiador antigo, que isso deve ser levado ao pé da letra. Confiar cegamente nas alegações extraordinárias de escritores da antiguidade é um grande erro!
Além do problema das fontes, a maioria dos historiadores costuma se abster sobre o tema da sexualidade, em parte por esse ser um tópico muito sensível para o público educado em uma cultura puritana judaico-cristã. Por esses motivos há poucos livros bons sobre o tema, e é por isso que é uma pena ver um autor perder a oportunidade de fazer um trabalho sério.
O livro também faz um desserviço ao fornecer dezenas de ilustrações sem qualquer tipo de identificação. Um grande ponto negativo! Além disso, a autora parece tão comprometida em criar um livro de causos, que na metade da obra simplesmente perde o foco e começa a divagar sobre temas completamente fora da alçada do livro, tais como: culto de animais, golfinhos na antiguidade, mártires cristãos e estátuas de imperadores romanos.
O Prazer do Sexo é uma obra interessante, bem escrita e capaz de render uma leitura agradável, desde que o leitor consiga relevar esses problemas. Mas não é um livro de História a ser levado a sério.
Resenha publicada em 26/04/2019.
Escrita por
Moacir Führ
Moacir tem 36 anos e nasceu em Porto Alegre/RS. É graduado em História pela ULBRA (2008-12) e é o criador e mantenedor do site Apaixonados por História desde 2018.